terça-feira, 23 de abril de 2013

Faceando

Na cama, ateve-se a examinar todos aqueles rostos e faces que povoavam a
heartline. Um era alegre, outra cúmplice; um era parceiro, o outro apenas
companheiro; um era sereno, a outra tinha olhos de ressaca; uma era observadora,
o outro desatinado; um era pra casar (mas achava que ainda tinha muito tempo a
correr), o outro era senil; Um mexia muito a boca, outro os olhos; uma era sem
sal, o outro tão doce.. Acabou seguindo o cursor, sem saber pra onde olhar.

Ano 3.0

San Paulo (discípulo da antiga Bíblia), 19 May. O ano é 3.0. Hoje fiquei em
dúvida se comia costelinha em Tóquio ou sushi naquele arranha-céu em Nova
Aurora. Tenho me tornado assim indeciso desde que o teletransporte se tornou
acessível até aos que sobrevivem só com as maçãs distribuídas pela ONU e pela
Apple. Sou vítima do atentado G-Earth III, que destruiu mais de 15 hectares de
nuvens de informação. O chip do banco deu problema, me confundiram com um
estelionatário e me deixaram quase off-line. Consegui uma conexão clandestina,
uma das últimas não cabeadas pelo projeto Changai. Já que o sistema me impingiu
tais regras, me obriguei a falcificar G-money. Um velho robô que trabalhou
naquela churrascaria em Nova Délhi um dia deixou escapar a faca e alguns
segredos. Seu idioma era quase incompreensível, mas isso já não mais faz sentido
desde que o iTalk começou a rodar nativamente nos chips implantados desde o ano
2.17 beta. A partir de então, todos os idiomas tornaram-se compreensíveis e
todos os livros legíveis em poucos segundos. Dia desses adquiri interpretações
inteiras, capazes de serem reproduzidas exatamente no tom e na velocidade da
minha fala. Em meio às minhas batalhas internas, como a luta entre o sushi e a
costelinha, vejo que meu último canal de ligação é também monitorado. Estou com
medo, mas não acho a carinha correspondente. Ficarei off-line por mais alguns
releases, mas prometo voltar até que o último pacote de esperança seja
confiscado. É o relatório. Cuide bem de sua nuvem

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Alguma coisa acontece no meu coração

Esses quase 5 anos de Sampa me deixaram mais inquieto e friorento. Me
pergunte, porém, se estou desgostando? Vejo coisas erradas, mas as
certas me desvirtuam mais a atenção. A gente cheirosa desfilando na
Paulista me faz esquecer que existe um Tietê. Há filas, mas sou quase
preferencial, necessário. Barulhos me deixam vesgo, mas o silêncio já me
provoca uma sensação ainda mais estranha. Vi os preços subirem, a
Augusta descer, a Nova Luz nunca se ascender. Vi muitos engarrafamentos
serem esvaziados, muitos copos reaproveitados. Senti a neblina forte das
manhãs, a fumaça quente das motocas. Subi ladeira, desci de carro.
Desacreditei no caminho do taxista, pois me acostumei a andar a pé. O
Peixe Urbano me fez nadar por alguns Rios então desconhecidos. A ponte
aérea me fascinou, mas sempre acreditei chegar em casa quando via as
margens do Ipiranga. Sinto mais frio, a mente às vezes entope de tanta
informação. Ainda assim, renovo por igual período, e a união continua
quase estável.