domingo, 22 de dezembro de 2013

Fim de noite, de mês ou de ano

Felicitações de bom novo ano, churrascos, fotos de piscinas e outros afins. Como
se estivesse na praia, esqueço do 3G e vou até a varanda sentir a brisa. O vento faz os
badulaques do vizinho balançarem, não sei se folhas se mechem. Um segundo é
nada, as horas nunca param. O vento deve parar antes do fim da noite, mas o
tempo avisa que é uma das últimas do ano presente. Foi mesmo um presente?
Encontros, desencontros, reencontros. Dias de muito trabalho, dias de sofá e
cafuné. Dias de silêncio na sala, outros de samba no pé. Noites de sono
tranquilo, madrugadas de enlouquecer o mostrador do celular. Alguns dias
burocráticos, outros entardeceres totalmente fora do script. Noites de
verborragia, manhãs de lingua vazia. Que os bons ventos continuem soprando, que
os badulaques continuem seu balanço. Que venha 2014, com muita paz e avanço.

sábado, 30 de novembro de 2013

Marcianita e a fruta azul

Seja pelo pouco que te conhecia, seja pelas palavras que um pro outro trazia. A
expectativa do reencontro me fez relembrar do passarinho verde, que alguma
alegria trazia. A noite, contudo, foi do azul: por que assim não poderia ser a
blueberry? Será mesmo que não existe fruta azul? Tantos questionamentos em
comum, quantas vivências coincidentes. Em você me vi refletido, em teu peito me
senti crescido. E eu, com minhas ilusórias convicções, quase digo que fui
traído: achava que ficar com outro igual (cego) era mais comodidade que
afinidade. Aí veio Marcianita, a brincar de ri e agita. Será Marte azul, será
que lá tem palafita? Acho que sou de Marte, acho que nas minhas histórias muitas
vezes será parte. Viva o azul e todas as outras cores, a Juliana e todos os
outros co-autores.

sábado, 21 de setembro de 2013

Caçando no escuro

Finjo alguma pressa, mas ela parece não se importar. Me guia até o 5º obstáculo,
dou alguns passos e subitamente penso que poderia voltar e molhar o bico. Subo o
degrau como se conhecesse o recinto, olho fixamente para o balcão e balanço meu
cabo guia. O garçom me avisa das notas do troco, pego a latinha e me ponho na
calçada. A mesa da esquerda me convida pra sentar. Por alguns instantes
mentalizo a mesa dela, mas segundos depois, já sentado, pude reparar que eram um
grupo grande, e que ela estava lá na outra ponta. Talvez na ida ao banheiro a
gente se esbarrasse? Será que também me olhava? A bexiga demorou a apertar, a
voz sumiu do meu horizonte. Por noites e até com sol passei naquela esquina, mas
nunca mais a encontrei na multidão.

domingo, 15 de setembro de 2013

Um apagão de 4 noites e 2 dias

Os semáforos ensimesmados, a repetir uma única cor apagada.
Alguns corpos foram necessários pra entender que o melhor era deixar o carro em
casa - a pressa também se apagou.
As geladeiras apodreciam, velas e isqueiros vasculhavam os escombros. O mendigo
já tava acostumado com a comida passada, mas à noite era sem alarmes. Tomava-se
cerveja quente nos bares, brindava-se a suspensão do expediente por falta de
computadores com nobreak. Nos restaurantes, muitos apressados comiam
literalmente cru. Cegos corriam pelas avenidas do centro, desertas de latas
móveis e tomadas de gente, vendendo pilhas. Aquele cubinho dotado de energia
começou a valer muitos dinheiros, ainda mais quando o cartão, na falta da
maquineta, passou a ser só um plástico numerado. Filas se formavam nos orelhões,
pra dizer que tava tudo bem e que, apesar dos pesares, tava tudo bom. À noite
alguns bancos que ficaram sem fardados de lanterna foram saqueados, mas os novos
ricos logo se iluminavam de mais e eram capturados em pleno breu. Nas primeiras
horas, vizinhos se encontravam constrangidos para o banho com senha, já que nos
andares mais altos a água só chegava por bombeamento (e olha que subir todas
aquelas escadas já era motivo pra uma boa chuveirada). Não demorou pra síndica
escrever 200 bilhetes a mão e convocar uma reunião de emergência, a fim de
estipular os horários de banho e a repartição de alimentos em bom estado -
muitos tanto se animaram com a idéia que até começaram suas ortinhas.
Numa dessas infindáveis noites, na fila da ducha, um vivente simpatizou com
outro e se solidarizou com a subida até o 20º caixote; acabaram dormindo de
conchinha no quinto. E de repente vários rádios e televisores gritavam ao mesmo
tempo, celulares voltavam a vibrar e emitir seus grunhidos. No radinho de pilha,
a mesma informação da telinha: já tinha metrô circulando. A luz voltou, já era
amanhã.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Ensaio sobre a cegueira alheia

Escovando os dentes e andando pela casa, me puz a divagar sobre conhecida música
do Capital Inicial que então tocava no rádio: o que você faz quando ninguém te
vê fazendo ou o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver? A pergunta já
até foi postada no "Yahoo Respostas", onde se mensionou desde chupar o dedo a
ver filmes eróticos. Penso, contudo, que além de coisas que temos vergonha de
fazer na frente de nossos semelhantes, podemos aproveitar a situação para algum
benefício próprio (aqui uso a 1ª do plural para passar a noção de coletividade,
e não necessariamente o que eu faria ou deixaria de fazer). Tome-se como exemplo
certa passagem do livro "Ensaio Sobre a Cegueira", de José Saramago: isolados
num alojamento só para pessoas que ficaram cegas, alguns mentem não terem
recebido comida, a fim de repetirem a escassa dose. Histórias parecidas
presenciei em encontros em que os "companheiros das vistas prejudicadas" eram
maioria (os chamados "encontros da cegolândia"): os poucos olhos atentos me
relatavam coisas como alguém que ficara com duas pessoas, sem que o outro
parceiro soubesse. É evidente que tais, digamos assim, desvios de conduta não
sejam exclusivos do meio cegal. No semáforo fechado, o motorista aproveita para
tirar aquela meleca do nariz - dentro daquela cápsula de lata e vidro, o cidadão
se sente invisível. Quem nunca pensou, ainda que depois corasse de vergonha pelo
pensamento ou risse à toa, em furtar um doce de alguma prateleira, ainda que
houvesse muito dinheiro nos bolsos e nenhuma fila no caixa? É claro que o mero
ato de mentalizar não é crime, mas o que nos faz pensar duas vezes? Há uma
diferença abissal entre cutucar o nariz e o furto, mas ambas são condutas que
geralmente só se concretizam quando se pressupõe não existir olhos atentos. Pra
fechar, vale citar Oscar Wilde: "Chamamos de Ética o conjunto de coisas que as
pessoas fazem quando todos estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas
fazem quando ninguém está olhando chamamos de Caráter." E você, o que faria se
ninguém pudesse te ver?

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Registrando a saudade

Hoje me peguei novamente dialogando com fotos, as mesmas que eu nunca vi. Arrumo
a legenda de umas, que o teclado pequeno do celular e a pressa não ajudaram na
grafia, advinho quem terá curtido outras tantas. Lugares, datas e pessoas
marcadas me fazem tentar recordar aquele momento. Já os comentários pouco
informam e quase se repetem, em maior ou menor grau de sinceridade: "tá mais
magro", "que delícia", "aproveita aí", e talvez um dos mais frequentes:
"saudades!". Tiradas antes da primeira garfada ou de uma visão mais atenta do
local, ficam disponíveis para a apreciação dos amigos (e dos amigos dos amigos)
tão logo haja uma conexão disponível. Mecanicamente já me encontro tão
acostumado com o processo que, após uma breve descrição do que me cerca, já faço
mentalmente a pergunta: será digno de uma foto? "Fica assim, que aparece você e
o prédio ao fundo", me diz o amigo antes do enquadro final. Do fundo de meus
devaneios, tento mentalizar o tal fundo, mas sequer conheço o bonequinho que
ilustra o "não fundo". "Você saiu sério nessa, mas o skyline ficou perfeito", me
diz outro. Imagino dezenas de colunas piscantes, de diferentes tamanhos, e uma
cabecinha estampando parte da imagem, mas parece tudo tão confuso.. Ainda assim,
em diferentes poses e propósitos, meu álbum ganha números, nomes, datas e
cidades. Esse emaranhado de dados provoca a tal da saudade: daquele momento,
daquelas pessoas, daquele vento de montanha, daquele cheiro de mar, da confusão
de sabores e idiomas. Ainda que de forma às vezes bem abstrata, o Google me
descreve muita coisa, que depois posso até confirmar com alguém "real" - o
Obelisco portenho realmente parece um pênis gigante, como vi em algum comentário
de blog? Já as sensações são quase que indescritíveis, tanto quanto a saudade,
aquela tão propagada nos comentários das fotos. HA propósito, há tempos não mais
se marcam encontros para mostrá-las, justamente porque já foram vistas quase que
no exato momento em que foram tiradas. Parece mesmo é que, de tão raros que são
os encontros, são esses dignos de uma foto. Não sei se sinto saudades de outros
tempos (talvez eu sequer tenha vivido em outra época), mas o fato é que, ainda
que nunca me tragam à memória grandes imagens, fotos sempre me dão saudades.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Noites Produtivas de Julho

Nem tão frias como as do começo do outono (choque térmico), nem tão quentes
quanto às que encerram a primavera. As noites do mês que divide o meio do ano
com seu antecessor são assim medianas, maiorais (muitos estão em férias),
murmurosas. Já não há mais a necessidade de inventar novas metas, pular 7 ondas,
ligar para os esquecidos para saber das velhas novidades. Também já não há a
correria dos shoppings, os sorrisos de boas festas, as orgias alimentares.
Crianças rabiscam no concreto um chão de areia, fazem da bruxa de papel uma
sereia. Adultos ainda não moços nunca acordam em tempo para o café, mas reclamam
da vida no Twitter. Adultos já moços se ressentem por não terem tempo nem
criatividade para poderem riscar o chão de areia. Moços já bem adultos reclamam
dos rabiscos, mas pedem para os mais novos fotografarem e guardam na cabeceira
dos pensamentos. E todos pintam o sete antes que venha a oitava fatia do bolo.
Logo já é começo de outono, logo fim de primavera. Noites produtivas de julho,
não tenham pressa ao amanhecer.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Domingo no Parque

Num carrossel de pensamentos, numa montanha russa de emoções. Num barco Viking
de enjôos, numa gangorra de sentimentos. Numa xícara de alívio e tontura, num
elevador que sempre cai. Eis o parque de diversões de meus devaneios

Vida Nada Seca

Quase todas as noites em claro ele a deixava molhadinha. Com suas histórias
autruistas, seus devaneios egoístas, suas desculpas a se perderem das vistas.
Todas as manhãs entornava os copos das lágrimas derramadas. Numa tarde de
intensa secura nos olhos, ela quebrou o vaso que ganhara na cabeça do próprio
semeador de prantos.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Feliz aniversário, envelheço na cidade

E naquele 2 de julho eu pegava o Cometão das 0:20 um pouco mais carregado que de costume. Daí em diante voltaria inúmeras veses pra Curitiba
(ou São José), mas agora como destino de ida. Tão difícil a partida, tão esperada que já quase fácil a chegada. E a estrada desses 60 meses
foi sinuosa, às vezes caótica, mas cheia de boas paisagens. Mais que grato a todos os motoristas que fazem parte desse quinto aniversário!
Em edição comemorativa, 5 caquinhos escritos nessa longa madrugada:

No Viaduto do Chá, ela me abrigou, ainda que seu destino fosse a outra mão, no seu guarda-chuva. Na Rebouças, ele aproveitou o trânsito
parado pra descer e me ajudar na travessia. À procura do Sesc Santo André, ela ouviu minha conversa no telefone e desceu no mesmo ponto só
pra não ser dirigido pra "comunidade" ao lado do local. Na 25, ganhei vuvuzelas só por ser corinthiano confiante, e na Achiropita fogazza
por ser amigo do Tocha, morador de rua que sempre me dá uma força ao driblar os faróis. No Tatuapé, a senhorinha quis se levantar pra eu
acomodar minha pesada mochila, mas se esqueceu da idéia quando desembarcamos falantes, ambos na estação errada. No São Luís, ninguém sabe
que sou Luiz, mas tenho muito mais que 2 nomes por lá.. E assim vamos indo, da Consolação ao Paraíso, do Carrão ao busão lotado. O bilhete é
único, mas as possibilidades são múltiplas

Aí Caetano.. Alguma coisa acontecia no meu coração quando cruzei a Ipiranga com a Avenida São João.. Cruzei na diagonal. A pista parecia
interminável, desfavorável ao único de duas rodas e um cano. Olhos atentos me acudiram do inoportuno desatino.

Quantas Marianas efetivamente moram na Vila Mariana? Quantos podem se dar a esse lucho na Vila Carrão? Ronaldo conheceu a General Jardim?
Melhor um Paraisópolis ou uma Bela Vista? Mais confortável morar na Saúde ou no Socorro? O último trem pro Jaçanâ ainda sai às 11? A
Mocidade Alegre resolveu novamente sair às ruas? Quantas bundas abastecem o Tietê? O Ibirapuera é nossa praia, mas a Atlântica fica mesmo
perto da Guarapiranga? Nossa independência começa no Posto Ipiranga? É, Criolo.. Aqui ninguém vai pro céu, que a pista sentido Paraíso tá
engarrafada de 23 de Maio a 9 de Julho.

Na São Silvestre cotidiana, subi Augusta abaixo e cheguei ofegante no Masp. Bandeiras me abraçavam, buzinas me cegavam. Gritamos, pulamos e
comemoramos o que era pra ser.

- Essa cidade não presta. Olha só essa calçada!
- Verdade.. Vai atravessar também?
- Isso, vou pro metrô, vai pra lá também?
- Sim, vou ali perto.
- Olha, moço, não fica andando sozinho por aí hora dessas não.. Nas tuas condição, acho que não é legal.
- Entendo. Mas moro por aqui, muitos já me conhecem.
- Sei, mas é sempre bom ficar de olho aberto né.. Essa cidade anda estranha. Lá donde eu vim tudo fecha umas dez, só o boteco
da praça
central que fica até o último fiador.. Mas sabe quê, moço, aqui é que as coisa acontece. Nesse monte de gente sou só mais
uma, posso fazer o
que eu bem entender.. E aqui me deram oportunidade, hoje tenho apartamento e filhos criado..
- Vou ficar por aqui. Brigadão viu!
- Magina, meu filho.. Com Deus viu, quando for a Minas não deixa de provar nosso tropeiro.

domingo, 30 de junho de 2013

A criatura da foto

Queria conhecê-la em braille. Passadas as preliminares e a demorada prorrogação,
a conduzi até o chuveiro. Gastei todo sabonete. Achei o melhor ângulo e tirei
uma foto tátil para ler nos momentos de ausência

Na loja de eletrodomésticos

- Então o senhor procura uma tv. Mas não é pro senhor não né?
- Sim, é pra mim.
- Mas então procura uma daquelas pequenas, não precisa ser a cores?
- Não, aquela que estava anunciada com 25% de desconto. Tentei
comprar mas o site era inacessível.
- Então quem viu o site pro senhor não conseguiu finalizar a compra?
- Não, eu mesmo tentei comprar. Uso um programa que lê a tela, mas o site é
gráfico e não obedece a um padrão estabelecido por vários órgãos reguladores,
entende?
- Ah ok. Então pretende presentear a esposa?
- Não, moça, sou solteiro..
- Mas meu senhor.. Desculpe se estou sendo invasiva, mas assim, nas tuas
condições, não precisa de uma com tantas polegadas e recursos.
- Sabe o que acontece, moça? Preciso de uma com bom som e às vezes recebo gente
lá em casa pra tomar uma cerveja e assistir aos jogos do Timão.
- Ah, então o senhor bebe?! E é corinthiano..
- Sim, fico tão emocionado que até fecho os olhos na hora das penalidades
máximas!
- Engraçadinho.. Olha, desculpa tantas perguntas.. Mas se o senhor quiser
assistir ao próximo lá em casa, tem uma tv bem grande viu..
- Não vejo a hora!

domingo, 9 de junho de 2013

Domingo na rua

Falava ao celular, usava algum perfume conhecido. Era única naquele mar de latas
móveis. Quando ouvi a conversa avançar a sarjeta, sabia que era a oportunidade
certa. A rua era larga, apressei o passo com medo. Nela esbarrei, pedi
desculpas. Desligou o aparelho e perguntou pra onde eu ia. Um papo bom, daqueles
que duram umas 3 quadras. Depois cada qual seguiu seu caminho, o domingo parecia
interminável.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Mudanças

Mudanças dão um medo..
Dá vontade de mudar de idéia, ainda quando a escolha não pertençe a nós
e quando o novo caminho já parece mais curto,
Aí os ponteiros mudam, nos carregando sem chance de voltar
Que o que já foi mudou de nome pra saudade,
que o agora é a mais nova realidade
Mudanças dão uma canseira, e depois esse descansar é tão intenso
que faz a gente acordar com outros olhares,
sem tanto se importar com os novos ares

terça-feira, 23 de abril de 2013

Faceando

Na cama, ateve-se a examinar todos aqueles rostos e faces que povoavam a
heartline. Um era alegre, outra cúmplice; um era parceiro, o outro apenas
companheiro; um era sereno, a outra tinha olhos de ressaca; uma era observadora,
o outro desatinado; um era pra casar (mas achava que ainda tinha muito tempo a
correr), o outro era senil; Um mexia muito a boca, outro os olhos; uma era sem
sal, o outro tão doce.. Acabou seguindo o cursor, sem saber pra onde olhar.

Ano 3.0

San Paulo (discípulo da antiga Bíblia), 19 May. O ano é 3.0. Hoje fiquei em
dúvida se comia costelinha em Tóquio ou sushi naquele arranha-céu em Nova
Aurora. Tenho me tornado assim indeciso desde que o teletransporte se tornou
acessível até aos que sobrevivem só com as maçãs distribuídas pela ONU e pela
Apple. Sou vítima do atentado G-Earth III, que destruiu mais de 15 hectares de
nuvens de informação. O chip do banco deu problema, me confundiram com um
estelionatário e me deixaram quase off-line. Consegui uma conexão clandestina,
uma das últimas não cabeadas pelo projeto Changai. Já que o sistema me impingiu
tais regras, me obriguei a falcificar G-money. Um velho robô que trabalhou
naquela churrascaria em Nova Délhi um dia deixou escapar a faca e alguns
segredos. Seu idioma era quase incompreensível, mas isso já não mais faz sentido
desde que o iTalk começou a rodar nativamente nos chips implantados desde o ano
2.17 beta. A partir de então, todos os idiomas tornaram-se compreensíveis e
todos os livros legíveis em poucos segundos. Dia desses adquiri interpretações
inteiras, capazes de serem reproduzidas exatamente no tom e na velocidade da
minha fala. Em meio às minhas batalhas internas, como a luta entre o sushi e a
costelinha, vejo que meu último canal de ligação é também monitorado. Estou com
medo, mas não acho a carinha correspondente. Ficarei off-line por mais alguns
releases, mas prometo voltar até que o último pacote de esperança seja
confiscado. É o relatório. Cuide bem de sua nuvem

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Alguma coisa acontece no meu coração

Esses quase 5 anos de Sampa me deixaram mais inquieto e friorento. Me
pergunte, porém, se estou desgostando? Vejo coisas erradas, mas as
certas me desvirtuam mais a atenção. A gente cheirosa desfilando na
Paulista me faz esquecer que existe um Tietê. Há filas, mas sou quase
preferencial, necessário. Barulhos me deixam vesgo, mas o silêncio já me
provoca uma sensação ainda mais estranha. Vi os preços subirem, a
Augusta descer, a Nova Luz nunca se ascender. Vi muitos engarrafamentos
serem esvaziados, muitos copos reaproveitados. Senti a neblina forte das
manhãs, a fumaça quente das motocas. Subi ladeira, desci de carro.
Desacreditei no caminho do taxista, pois me acostumei a andar a pé. O
Peixe Urbano me fez nadar por alguns Rios então desconhecidos. A ponte
aérea me fascinou, mas sempre acreditei chegar em casa quando via as
margens do Ipiranga. Sinto mais frio, a mente às vezes entope de tanta
informação. Ainda assim, renovo por igual período, e a união continua
quase estável.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Ensinamentos de mais um carnaval

Prestar a atenção requer uma certa tensão
acariciar requer um diminuir no dansar
mas beijar faz ressuscitar quem nunca havia morrido, numa explosão de ternura e libido

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Perguntas que batucam na cabeça

Como será o amanhã? É dos carecas que elas gostam mais? Se a canoa não virar, eu
chego lá? Daria R$1 pro mendigo que dança e pede: "me dá um dinheiro aí, me dá
um dinheiro aí?" Quando meu bom Allah vai aparecer com o calor? Você tem mesmo
que me dar seu coração? Seja sincera, Aurora! Ah morena, deixa eu gostar de
você? Será pequena a Chiquita Bacana lá da Martinica, que se veste com uma casca
de banana nanica? Foi pra se homenagear a Colombina que inventaram a colomba
pascoal? Bandeira branca, amor, pois nem o Zezé da cabeleira sabe se é ou não é.
A turma do funil só vai descobrir que cachaça não é água não na quarta-feira.
Garrafa cheia eu não quero ver sobrar, mas depois as águas vão rolar. Porque
faça sol ou temporal, vem aí mais um carnaval!

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Inventando um novo amor

Já se foram quase 24h daquela procura no fundo da última latinha.. Agora os dedos obedecem alguma lógica, embora eu continue emotivo. Como
lembrar de teu sorriso se eu não lembro de teu rosto? Como não lembrar de tua mão gelada sem pensar como seriam teus Sim, eu imagino, eu
invento.. E se fez então inteira, só naquele momento

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

2013

2013.. Quantas vezes sorrirá antes de dormir? Quem será o poema que você não
saberá fazer? Que música assoviará no elevador, em plena terça-feira? Quantas
vezes esperará respostas para perguntas que sequer fez? Quantas mãos apertará
com vontade, quantos braços te segurarão não por vaidade ou piedade? Quantas
vezes achará que devia ter saído de casa vestindo um pijama por baixo? Quantas
vezes dirá "pra que comer tanto" ou "hoje vou voltar cedo"? Quantas crianças
verá nascer, andar ou correr? Quantas novas amizades serão mais que um contato a
mais no Facebook? Quantos elogios sinceros receberá? Quantas malas desarrumará?
Quantas vezes irá querer saber se alguém já chegou em casa? E, por fim, em que
mês terá a plena sensação de que cada ano tem seu drama e seu charme? Feliz
página nova, pra gente continuar e inventar um novo desenho.